segunda-feira, 23 de maio de 2011

EQUITA O QUE?


  Um dos assuntos em maior evidência dentro das associações nos últimos anos são as provas de funcionalidade. Por incrível que pareça, o tema que deveria ser básico, acaba, muitas vezes, por dividir opiniões com uma ala do contra. Mesmo assim, as competições que testam habilidade vêm ganhando terreno e hoje quase todas as entidades têm a sua “Prova funcional”, cada uma a sua maneira.

      A idéia parte do princípio da ligação dos cavalos com atividades do campo e veio como resposta a criadores que cultivavam apenas os aspectos morfológicos dos animais. Vale ressaltar que a predominância desse tipo de pensamento foi tão forte, que algumas raças chegaram a abolir as provas funcionais por um tempo. O resgate vem ocorrendo aos poucos, embora ainda de forma tímida. Haja vista o peso pequeno – quando tem – das notas em relação a outros tipos de avaliação, em especial a morfológica, sem nenhum critério evidente. As exceções existem apenas para justificar a regra.

   De forma geral, o que se vê com bastante freqüência são provas nas quais os obstáculos simulam tarefas da fazenda, com contorno de balizas, pequenos saltos sobre o feno, mudanças de mão e pé, passagem sobre a ponte e abrir e fechar porteiras, entre outras. Na maioria das vezes, o critério é a corrida contra o cronômetro, deixando em segundo plano, ou em plano nenhum, a performance do conjunto, em especial o nível de educação eqüestre e equitação dos cavaleiros.

   Essa questão tem chamado a atenção de especialistas. Se por um lado busca-se valorizar os aspectos funcionais dos animais, por outro esquece-se que o desempenho depende essencialmente do preparo e capacidade do cavaleiro, em uma avaliação conjunta. Um não existe sem o outro. Esse desencontro fica evidente no desempenho dos conjuntos. Basta observar nas provas funcionais como algumas técnicas básicas de equitação dão completamente ignoradas. As pernas são usadas apenas para suportar as esporas e tocar o cavalo para frente; as rédeas não têm nenhuma conexão com as patas. Fazem de tudo e de qualquer jeito. Pobre dos animais, que mesmo tendo uma boa funcionalidade, não conseguem compreender o que é esperado deles e acabam reprimidos por despreparadas esporas e rédeas violentas.

   Com todo esse despreparo dos conjuntos cavalo-cavaleiro, uma simples curva na baliza ou tambor acaba se transformando em tortura, com rédeas puxando o pescoço enrijecido, lombo invertido e a garupa sem saber o que fazer.  O que pode se esperar de um animal que recebe este tipo de comando? Não há como avaliar a funcionalidade do animal sem avaliar a forma como é conduzido!

  Hoje existe um equivocado sistema divisor da equitação, que separa Salto, Adestramento, Rédeas e o que se pode chamar de “Aleatórios”. EQUITAÇÃO É UMA COISA SÓ! Mas parece que alguns segmentos querem reinventar a roda e não seguir um processo trabalhado e desenvolvido há anos, dentro de um padrão de preparação acadêmica.  Se as pessoas tivessem um nível mais alto de educação eqüestre e equitação, elas saberiam como adaptar os princípios da boa equitação na suas diversas modalidades.

O problema passa essencialmente pela transposição de aspectos culturais. Ninguém quer ser violento de graça, é verdade. A imposição, a coerção e a aplicação de dor física acontecem muito mais porque o cavaleiro não tem conhecimento prático, teórico, técnicos e culturais, e a influência cultural acaba pesando mais forte. Ou seja, é muito mais uma questão de ignorância e despreparo.

Qualquer cavaleiro que compreende a ligação de uma perna de dentro com uma rédea de fora, sabe do que estamos falando, por que, então, não levar o conhecimento para as “provas funcionais”de cavaleiros com calça jeans, camiseta e bonés? 

4 comentários:

  1. Acho q isso acontece mais por aqui, pois todos os professores q vem de fora dar aulas aqui de tambor e baliza, sempre reforçam sobre a necessidade do trabalho de rédeas, principalmente em baliza.
    Talvez por essas modalidades aqui ainda não haverem profissionais capacitados, geralmente quem treina os cavalos são os vaqueiro sem nenhum conhecimento técnico.
    Sempre acompanho o circuito de tambor e baliza, tenho amigos lá e sei q eles realmente amam os seus cavalos,mas como foi dito aqui, eles não tem conhecimento dos maus tratos q acabam causando aos seus animais.

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  2. Nao acho que seja por maldade, mas por ignorancia (o que eh tao perigoso quanto) , o que fazem com os cavalos de algumas modaliddes equestres tradicionais em nosso estado. Eh simples observar a vida util de um cavalo de salto, e a de vaquejada, por exemplo... educacao, mais uma vez, eh a solucao! Uinie

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  3. Eu, por exemplo, pensava que eram coisas completamente diferentes. Mas compreendo agora que os princípios e a técnicas são os mesmos por essência.

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  4. Digo por experiência própria. Sou aluna do hipismo clássico no Harafah. Hoje sei que todas as modalidades, seja ela de funcionalidade ou esportiva, tem por base a correta técnica de montar. Penso eu que o mais importante: é ter consciência de que o melhor resultado depende da condução firme, habilidosa e de bom senso do cavaleiro ou amazonas. Acho uma falta de prudência usar a força bruta para subjulgar um animal, principalmente o cavalo, que tem a sensibilidade nata à flor da pele, aos caprichos de um montador qualquer de pernas que mais parecem um mulambo.

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